28 de agosto de 2013

[Ace Travels] 2º Manga and Comic Event do Algarve - OLHA EU, NOS ALGARVES

Abrindo agora uma nova categoria: Ace Travels! Vulgo, viagens e passeatas que vá fazendo e que não tenha demasiada preguiça de contar.

Na quinta a minha ilustre pessoa foi convidada a passar uns dias na casa da praia de uns amigos de seus pais. Que até têm uma rapariga da minha idade de quem, surpreendentemente, gosto, mas essa visitinha acabou por tomar de assentada três dias do meu descanso. Foi no penúltimo desses dias, enquanto aproveitava a magnífica vista das luzes noturnas da cidade do outro lado da praia, numa esplanada de café onde ouvia alemão de um lado e francês do outro, que recebi uma chamada.

– Naomi, ainda vamos aos Algarves?

Ainda entorpecida pela maresia e pelo sono, consigo balbuciar atordoada:

– Vamos lá fazer o quê, rapariga?

Um silêncio do outro lado. Por fim, a derradeira frase que me fez a vida passar diante da fronha sonolenta.

–...ir com a gente ao evento de mangá?

Então, fui ao meu primeiro evento de anime e mangá. Para ser sincera com vocês, desde que me conheço por gente que queria ir a algo do tipo. Na minha pequena comunidade não conheço, como já referi, mais que uma ou duas almas que se interessem minimamente pelo género, e gostar de algo com que mais ninguém se identifica e não ter criatura com quem partilhar o hobbie não é a melhor sensação do mundo. Passar um dia, com sorte dois, num espaço onde estaria rodeada de gostos equivalentes seria uma lufada de ar fresco.

O que me impediu até agora, aos meus quase desassete anos, de atender a tal foi a falta de meios. Não tenho nada do género num raio de quilómetros. Iberanime, o imperador dos eventos de cultura japonesa em Portugal, é Lisboa e Porto, inalcançável em todo o aspeto imaginável, sendo num fim de semana a meio do período escolar e envolvendo transportes, alimentação, bilhete e compras, num valor mais elevado do que eu alguma vez poderia sonhar em gastar. Ouvi depois falar em ajuntamentos em Coimbra, outro de menor dimensão também em Lisboa, e parece-me que foi algures referida a região do Minho. Cada um mais impraticável que o outro, tendo em conta a minha localização geográfica.

Depois falou-me a rapariga que me indicou o anime do Elfen Lied este, no Algarve, que é mais perto. Em Faro, que não é de todo impossível. Avisou-me que iria, e convidou-me para a acompanhar. Assim, com alguma conversa com a mã e um bocado de graxa ao pai, ajudada pelo facto de conhecerem a broa e depositarem nela confiança, lá embarquei, neste domingo, para o segundo e último dia do Manga and Comic Event do Algarve.



Chego lá eu, toda catita e saltitante à entrada do evento num pequeno edifício encaixado numa fileira de outros pequenos edifícios - esqueci-me do nome deste, perdoai. Eles provavelmente têm um site ou um Facebook ou coisa assim, vão mas é lá ver se estão curiosos - e a primeira coisa que me fazem depois de pagar o bilhete é carimbarem-me o braço. Ora. Eu cá achei piada, que não tenho por hábito sair e nunca tinha passado por esta simples experiência. Tentei tirar fotografia, mas como sou uma soberba utilizadora de câmaras, ficou tudo borrado. Então não há imagens pra vocês.

Lá entrando, a primeira coisa com que me deparo é uma fila corrida de mesas de lojas ditas amadoras. Um leve passar de olhos por este e já sentia a carteira mais leve. Colares com relógios, gorros de lã do Pikachu e do Totoro, pins de todo santo fandom que por aí se lembrem, e não só anime. Tenho enfiado na mochila um pin do Supernatural, mas precisamente a tatuagem anti-possessão. Demons ain't shit on me.

Pins da Lost in Wonderland e porta-chaves da Kyara Creations

Uma primeira vista, e decido explorar o espaço, antes que estoure com as poupanças na primeira hora do evento. Começo então por uma ponta, entrando numa sala ao canto que se revelou ser...

A Sala de Lojas Profissionais.

Eu tenho uma pontaria masoquista. 

Lojas profissionais significa mais bijutaria de animes, mais gorros, casacos do Naruto, t-shirts de, novamente, tudo e mais alguma coisa, e mangá. Muito mangá.

E isto aconteceu.

Mangás do Clube MtG Olhão e lacinho da Sakura's Workshop

Isso, apedrejem-me em praça pública, nunca tinha lido Death Note, apesar de sempre ter tido curiosidade. [gritos indistintos de "POSER!" ouvem-se à distância] Nunca calhou, querem o quê? E agora, preguiçosa e no ócio do descanso, posso ler traduzido em português, sem fazer qualquer esforço por entender línguas estrangeiras, no conforto do lar, enquanto como cup noodles.

Mas já chegamos aos cup noodles.

Não aconteceram os gorros e as t-shirts, para meu desprazer, mas contento-me em saber que o evento terminou mas as lojas continuam. Hei-de lá chegar.

Próxima paragem, Sala de Jogos de Vídeo. Arrastei uma das minhas pobres companhias para uma partida de Mario Kart comigo, apesar de não tocar num controle desde a festa de aniversário de quinze anos de um bróder que tem agora dezassete, o que vos pode dar uma pequena ideia das minhas magnânimas habilidades jogatineiras. Acabei com o kart dentro de água umas três vezes à custa das armadilhas de casca de banana que eu própria deixei na pista, e praguejei mais que um pedreiro espanhol face à inevitável derrota. Acabei com um daqueles ataques de mau perder e informei ir continuar a passeata.

Sala de Artistas Amadores. Vulgo, crises de coméque esta gente consegue fazer arte deste grau de qualidade meretriz que deu à luz vocês são todos demasiado novos para fazerem estas coisas.

E mais aquisições.

Marcador de livros da CatiArt e mangá Aventura no Deserto de Bruno Rola

Ao fundo desta sala, haviam ainda a Sala de Workshops - nos quais não me cheguei a inscrever por incompetência minha. Havia de Japonês, Cosplay, Sushi, coisas ao monte, audiência. Olhem onde a minha idiotice crónica me leva - e Sala de Jogos de Cartas. Se em videojogos quase enfio o comando no ecrã da televisão ou na cara de alguém, não quis descobrir sequer como seria o meu aproveitamento nesta vertente. Dei meia volta e voltei ao corredor, em direção à única sala não explorada: O Salão e o Bar.

No Salão decorria já o fim de um karaoke de músicas de anime. Salvou-os uma força maior de eu não ter descoberto a atividade mais cedo, não fosse eu decidir mostrar as minhas inabilidades musicais. Mas aproveitei para ir ao bar, porque um dia não é dia até que eu coma o triplo do meu peso em coisas pouco saudáveis e extremamente desaconselháveis a alguém com a resistência da minha saúde.


Foto da página de Facebook da Baunilha Cor de Rosa. Estes amigos tinham bolachas super fofas com forma de personagens de Star Wars e Angry Birds, e que de quebra sabiam a arco íris e a lágrimas de anjo.

Ainda rondei o lugar mais algum tempo, controlando as vontades agressivas de levar tudo das bancas e tirando fotografias a medo. Apesar de ser uma desbocada nas terras da internet, sou o bicho mais assustadiço no que toca a contato social na realidade, pelo que tinha de passar duas horas a mentalizar-me antes de pedir aos cosplayers, ainda com a voz meio sumida, se não podia tirar uma foto com eles. Acabei com algumas bem catitas, que não posto aqui porque têm a minha fronha lá, e eu tenho misericórdia de vossos globos oculares.

O acontecimento seguinte de que me apercebi foi um Live Action Role Play, que fiquei para ver e ainda filmei um bocadim. E sabem que mais?

Nunca me ri tanto na minha vida.

Todas as histórias de todo santo grupo metiam yaoi pelo meio. E eu lá sabia que havia tanto pervertido como eu por este país fora! Fiquei tão feliz. Senti-me em casa. Só não posso dizer o mesmo dos dois rapazes com quem me encontrava, cada um mais chocado que o outro. A primeira vez que a palavra "yaoi" foi mencionada, olhei para a cara do que estava a meu lado e reparei que ele estava absolutamente desnorteado.

– Sabes o que é yaoi, certo? – Inquiri.

– Não faço a menor ideia.

– E tu, sabes? – Perguntei para o bróder na cadeira atrás. Outra negação em resposta – Querem que explique?

– Faz favor. – Responde o primeiro.

– Vou tentar dizer de uma maneira bonita.

– Força.

– É quando...

– Sim?

– Há um mangá... pronto, também pode ser um anime... em que existem duas personagens... que...

– Que?...

– Ah, q'sa lixe. É quando dois gajos se comem.

– Oh.

– Tipo porno gay, mas em anime e mangá, e que tem uma história por detrás. Quando são duas gajas é yuri. Quando é uma gaja e um gajo é hentai. Saca?

– Perfeitamente. E nem precisaste dizer bonito.

– Desisti. E, já agora, no yaoi o que dá é o seme e o que leva é o uke. Se são multifunções, são sekes. Uma rapariga que gosta de yaoi é uma fujoshi. Ok?

– Nem te vou perguntar como é que sabes tanta coisa sobre o assunto.

– Não penses nisso sequer. Ignorância é virtude.

Mas, verdade seja dita, não sei quem estava mais chocado; se os rapazes da plateia, se o pobre do apresentador, que a certa altura já balbuciava "vocês matam-me, vocês matam a minha infância" para toda a rapariga que lá se encontrava.

Já referi que a certa altura lacrimejava de tanto rir?

Vira e mexe, tive de ir almoçar. Aí entram os ditos cup noodles. Arremessem a mim tijolo e brita, nunca tinha comido tal iguaria [gritos indistintos de "MEGA POSER!" e um agudo afiar de forquilhas ouvem-se à distância] e tive uma experiência engraçada. Era bom, e consta que é super fácil e rápido de fazer, e que se vende em supermercados de comuns mortais. Aí comecei a questionar todas as minhas decisões de vida, desde o trágico momento em que decidi forçar-me a aprender a cozinhar um mínimo imprescindível de receitas. Querem então dizer-me que mete-se água quente neste copim com massa e ta-daah, uma refeição!? Tinham-me dito antes e poupavam-me muito trauma!

Seguidamente, Concurso de Cosplay! Mais gente a fazer-me inveja com o seu talento e coragem de personificar as suas personagens preferidas. Mas nada temam, para o ano estou decidida a ir lá para cima também. Só revelo uma coisa do meu cosplay: vai meter mais sangue falso do que aquele que posso comprar, aceito desde já patrocinadores.

Foto desfocadérrma da minha autoria dos participantes no concurso.

...e uma vã tentativa de apanhar todos os cosplayers presentes no evento.

Houve ainda um Baile de Cosplay, segundo constava no programa, mas a essa altura já estava derreada, os pés latejavam-me de andar tanto, o braço doía de estar com ele a servir de tripé fixo para a câmara enquanto filmava, as costas encarquilhadas porque já é hábito. Sentei-me na sala de jogos de cartas a jogar Pou no telemóvel, a arrumar minimamente as aquisições dentro da mochila, já que não me apetecia voltar à terriola com livros rasgados ou bijutarias partidas, e a observar de soslaio o jogo que decorria na mesa ao lado, enquanto esperava pela minha boleia.

All in all, foi um dia fantástico. Fiquei com uma ótima impressão deste lado do país, e do que é um evento de mangá. Agora que lhe apanhei o gosto, só tenho a pedir que continuem a descentralizar este tipo de atividade, porque Portugal é mais que Lisboa, Coimbra e Porto, e existem pessoas muito talentosas que quase não vêem a luz do dia por não terem condições para atender a eventos nestes sítios. O Alentejo existe, o Algarve existe, e já agora os Trás-os-Montes e Alto Douro também, que são esquecidos à força toda, e esta dinâmica fora das principais metrópoles não pode, de forma alguma, acabar por aqui.

Agora só tenho de esperar que o meu canto decida também a fazer algo do género *sniff*.

De resto, continuação de boa semana. Vemo-nos sexta feira, embora ainda não saiba bem com que assunto. 

WEABOO OUT!


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