31 de agosto de 2013

[MEGAPOST DOS DEMÓNEO] Yaoi Bingo + Resenha de Junjou Romantica: Parte 1

Estes dias tenho andado algo ocupada. Género "três horas de sono por noite é uma dádiva" ocupada. Está a deixar-me literalmente doida. E não, não estou a usar o "literalmente" como "figurativamente". Literalmente mesmo. No outro dia acordei às cinco da manhã e reparei que tinha a minha pulseira de tachas no tornozelo, e não tenho qualquer memória de a ter posto lá. Ataques de sonambulismo esporádicos derivados do cansaço? Prefiro dizer que estou a ficar doida e pronto. É da maneira que não me chateiam.

Então.

Há já algum tempo que queria postar este projeto de resenha. Comecei a fazê-lá há algum tempo, ainda eu não tinha postado a minha opinião reformulada sobre yaoi. Esclarecimento rápido, apesar de já ter afirmado não gostar da maioria dos mangás yaoi que por aí encontro, visto a premissa destes passar mensagens muuuito erradas, não desisti do género em si. Só que agora desligo a página ao primeiro sinal de filhadaputagem que avistar no horizonte e vou jogar Cookie Clicker instead. E costumo ler reviews e pedir opiniões antes de enveredar por uma série, em vez de engolir tudo o que me metem à frente.

Só que todo o material que tinha preparado para o post, assim como o resto da resenha, as imagens, os gifs, estava tudo guardado numa pastinha muito jeitosa, com cheiro a canela e sonhos realizados, linda e arrumadinha...

...no meu disco externo que morreu.

Está cada vez mais difícil controlar o incontrolável impulso de sacrificar uma virgem para recuperar os dados do Além-Mundo para onde eles foram.

HOWEVA, seria um descomunal desperdício simplesmente desistir do post. Quero dizer, olhem aí para a barrinha à direita. Olhem bem. Já viram o tamanho desta gaita? Pode nem ser nada de jeito, mas deu trabalho. E já sabem como é que eu funciono; está uma porcaria mas demorou cinco horas a fazer? É a minha obra prima.

Então, aqui está a primeira parte da resenha, que não foi à vida porque já estava guardada no Blogger. O restante, vou refazendo calmamente, para não me dar nenhum esgotamento. E vou guardando diretamente no Blogger, desta vez. E na Dropbox. E na minha pen. E na pen de emergência. E num CD. E no cartão de memória da máquina fotográfica da Hello Kitty da Lady Mia.

Juro-vos por tudo que nunca mais perco nada.


Em verdade vos confesso que a minha fujoshice nunca chegou a morrer. Apenas ocorreu que, neste blog, deixou de ser discutido, devem fazer hoje uns cinquenta e três anos, para discutir assuntos de escola, rantear sobre a escola, conspirar em regar a escola a potássio em pó e fazer a dança da chuva, entre outros.

MASSS agora estou de férias. O que significa, aparte do blog, que tenho o tempo que levava nas aulas a ir ao Tumblr todo livre para estar em casa no Tum- oh.

Esqueçam lá isso.

Continuando com o raciocínio: tenho mais tempo para o blog. E posso fazer mais posts, sobre mais assuntos, porque tenho tempo para pensar cuidadosamente nisso. Portanto, retomo a época de fujoshice, que é um assunto que me agrada pacas falar/escrever. 

Porém, não me canso de avisar: daqui para a frente é só viadagem, obscenidades, linguagem inapropriada, caps lock rage... espera. Isso há em todos. Acho que está mesmo na hora de pôr um filtro no blog, antes que o apaguem por conteúdos ilícitos.

Whatever. Se não gostam, não comam, metam na borda do prato, não me venham é chatear a cachimónia. Grata.


Desde a minha época de yaoísta ferrenha que ouço falar em Junjou Romantica. Como estava demasiado entretida com todos os outros vinte mangás que andava a ler em simultâneo, não me dei ao trabalho de começar a ler mais um. Mas sempre me deu a idéia de ser uma espécie de clássico do yaoi, um must-read na lista de qualquer fujoshi que preze o título, e algo que os wannabes afirmavam ter lido quando queriam pagar de yaoístas sem saberem sequer o que é um bareback.

Assim me contentei durante muito tempo, visto que sou uma ociosa sem igual, e de tal capacidade cognitiva que acabei por me esquecer.

Até que me decidi a ler um yaoi curtinho antes de ir roncar para a berma da cama, e abri o meu site de eleição para o efeito.

E sim, essa é a minha leitura antes de dormir. Basicamente porque é leve, na maior parte das vezes sem plot - quick reminder de que o significado real de "yaoi" é "Sem clímax, sem resolução, sem significado" - uma leitura rápida e acéfala só para ter com que me entreter enquanto bebo o chá Noites Tranquilas, sem o qual o meu sono teria mais intermitências que uma rádio pirata espanhola no litoral-Oeste português.

Ora, tendo a casa num profundo silêncio de noite cerrada, a família adormecida, o quarto imerso em escuridão, exceptuando a fraca luz do computador em modo poupança de energia,  a gata aninhada ao meu colo, lá abri o site, e o tal yaoi apareceu na lista dos mais recentemente atualizados, no cabeçalho. Reconheci automaticamente o nome, e deu-me aquele baque - porque não?

A única razão que me impediria seria o tamanho da obra. Eu andava à procura de um curtinho e, visto que já andava a ouvir falar em Junjou desde que o primeiro ser procarionte apareceu na Terra, e este continuava a ser atualizado, devia ir no décimo quinto ou décimo sexto volume, no mínimo. Provavelmente sucumbiria ao cansaço mental antes de chegar sequer aos amassos.

Enfim. Lá acedi, abri o desgraçado, pus-me a ler.

Ainda vinte páginas não haviam passado, já me tinha lembrado de que poderia transformar isto em assunto para post, com algo que encontrei no Tumblr e guardei nos favoritos.

Assim, convido-vos a jogar comigo Yaoi Bingo.


Toda a gente sabe como o Bingo funciona, não é? Se não, vão pedir ás vossas avós que vos expliquem, que eu não tenho paciência. Pronto, está bem. Basicamente, marco um quadradinho sempre que tal facto se verificar. Quando completar uma linha (vertical, horizontal, ou diagonal), berro "BINGO!", acordo a casa toda, sou deserdada, banida do lar, e vou viver para debaixo da ponte. Há jackpot se preencher o cartão todo.

Ah, e já agora, relembro que na linguagem dessas galderices, seme é o que come, uke é o que é comido. Apanharam? Então vamos finalmente começar. Cliquem aqui se quiserem ler o bicho ao mesmo tempo que eu tagarelo. 


Capa. Nada de especial, exceto o pobre uke parecer uma rapariga. Mas isso já é uma constante universal inquebrável. *sigh* Ah, e os queixos incomodaram-me um leve bocadinho. Mas deixo passar.

Algumas páginas de yadayada depois, chegamos á página seis, onde me deparo com isto:


Resvalei lentamente pela cadeira, que rangeu tal as costas de um velho reumático. Começo a suar frio. Só não chapadeio o teclado porque tenho medo de acordar alguém, mas a gata não gostou de sentir a sua cama de eleição ficar hirta de repente, e começou a arranhar-me as pernas. Apesar de a dor física não superar o ardor no meu pobre coração.

Mas. Que. Anatomia. CAGADA. É. ESSA?!

Um cu quadrado, emoldurado a dobras na roupa que não fazem sentido, como caralhos é que funciona a perna direita do que está sentado, o braço direito do mesmo também não faz o menor sentido, E AS MÃOS. QUE RAIOS SE PASSOU COM AS MÃOS DESSAS CRIATURAS?!

Se um dos meus bróders do curso de Artes me mostrasse uma grotesquidade dessas, eu arrastava-o de volta à sala de Desenho e fazia-o ficar lá trancado a pão, água, e modelos vivos por uma semana a fio. Dizem-me vocês que um mangaká publicado pode dar-se ao luxo de cometer estes dislates?

WELL SHIT. Ainda nem começou a história e já começo a preencher o Bingo.


Ah, e visto que tenho a tablet na sala, estou no meu quarto, e são quase *vai ver as horas* duas da manhã, vou preencher com o rato, mesmo. E notem que a minha está melhor desenhada do que as acima.

Um pouco mais de encheção, até à página dez, na qual finalmente começa esta puerra, e onde um rapazote vai, a contragosto, entregar sopa de carne de porco (dafuq) a um edifício que a mim me parece um hotel/condomínio daqueles emperiquitados.

Depois descobrimos que, afinal, o coitado só lá foi porque um alguém que lá vive vai ser o seu explicador particular, já que o desgraçado precisa de alguém que lhe explique a matéria de segunda vez (contra mim falo, também tenho explicação fora das aulas, não me venham com tretas de social justice). E que essa pessoa é tipo um Bruce-Todo-Poderoso, pela descrição mental do rapazote. Vou adiantar que o rapaz se chama Takashi Misaki e o omnipotente, Usami Akihiko, porque isto de andar a referir-me aos dois como "ele" não funciona.

Então, um apanhado do que o tal Usami é, de acordo com a descrição mental do nosso jovem amigo:

  • Filho de um ricaço - Ok. Isso também é meio que uma constante no mundo do yaoi, sabem - proporciona uma desculpa para que o casal possa não fazer cu nenhum senão afagar o bagulho o dia inteiro. Além disso, não acreditariam se vos contasse quantos yaois existem com a premissa de "rico-mimado-que-faz-gato-e-sapato-de-um-humilde-trabalhador". Ainda com a variante em que o humilde acaba por desistir de trabalhar e acabar como dona-de-casa, mas esses eu passo impiedosamente à frente porque gender role dá-me afrontamentos. Vamos esperar que este seja um pouco mais credível, pretty please?
  • Nasceu na Inglaterra, onde viveu até aos 10 anos - O quê? Tentar fazer-me simpatizar com o guri por via emocional, apelando à minha teaboo'isse crónica? Isso é baixo. Muito baixo. E não vai funcionar.
  • Entrou na Universidade T (uma espécie de universidade prestigiada, faz parecer mais à frente?) e graduou-se em Lei (Direito, certo? Estas traduções técnicas matam-me), sendo o melhor do seu curso - estes marmanjos andam a puxar a barra para o lado do Gary-Stu.
  • É possuidor de uma penthaus de cinco quartos no melhor distrito de Tóquio - Não acham que estão a abusar?
  • 28 anos e ainda solteiro - Ser um suposto "apenas-tutorando" a bradar esse facto como se fosse o pináculo da perfeição é meio que... atiradiço da parte dele. E estão a esticar-se.
  • O mais jovem vencedor do prémio de literatura Shisen e um autor de best-sellers.
...
Faltam-me as palavras.
...
Ajuda-me a expressar-me, Décimo Primeiro Doutor.


Obrigada.

OK, AGORA PARTIRAM A BARRA.

A sério, espero que, para a frente, consigam arranjar à personagem alguns defeitos que equilibrem todos estes brilharetes. E vão ser precisos muitos. Muitos mesmo. Porque nenhuma pessoa normal teria tanto talento e conquistas sem ter também meia dúzia de podres.

Temos então, a este ponto, um Gary-Stu riquinho e um tutorando babado à porta dele, à espera o atenda. Na mesma página onde o rapaz alopradamente nos informa que "este Deus é amigo do seu irmão squeeee~". Palavras dele.

Tentativa infrutífera de nos fazer tentar gostar do tal Usamey? Iep. Novamente, não funcionou.

Entretanto, ele tem um flashback do dia em que conheceu o tal Usami. Que, por acaso, foi quando entrou em casa e o encontrou agarrado ao irmão, a nanómetros de o beijar. EGADS! Misaki fica todo chocadérrimo, coisital, mas o aparente casal aje da forma mais despreocupada possível, o irmão dele cumprimentando-o, Usami, ainda agarrado a ele, a perguntar-lhe se este é que era o irmão dele, e a tecer um comentáriozinho sarcástico em como "são muito diferentes", ao que Misaki nem responde, vermelho que nem um norueguês no Brasil. Vou ignorar novamente a anatomia fodidaça da cara do Stu num dos últimos painéis, porque se me ponho a apontar os erros todos dou em maluca, e nunca mais saio daqui.

Após estas divagações descaradamente explicativas, o rapaz abre a porta da casa, enquanto mentalmente nos informa a si mesmo que Usami lhe disse que entrasse se ele não atendesse.

...

Wat.

Isto é coisa de japoneses, ter a porta da frente da porra de uma penthouse aberta ao povo? Ou de casas em geral, visto que o rapaz também não destrancou a porta da sua própria casa no flashback?

O Japão é um mundo à parte, realmente.

...apetece-me café com canela. Acabei o chá, ainda quero escrever, mas estou a começar a sentir os efeitos da dopação camomilística. Só que se eu perturbar o sono dos progenitores acabo empalada na janela. Ajuda.

Misaki entra, poisa o saco na mesa, divaga mais um bocadinho, e depara-se com alguns pacotes de livros na mesa de centro, com uma nota do Stu a um tal de Honshou/Honjhou/Hon-qualquer-coisa-que-se-assemelhe. Como manda a boa educação, o nosso puto preferido vai de lá e mexe num dos pacotes abertos, e começa a ler um livro como se mandasse na zona.

Ao que descobre que é um romance erótico gay escrito por Usami, que, convenientemente, tem como personagens intervenientes Akihiko e Kyoukou.

Vulgo, o próprio Stu e o irmão do rapaz.

Admito, esta parte fez-me rebentar uma artéria coronária de tanto rir. Apesar de obviamente stalker, pervertido, doentio, encalhado, provavelmente violador de qualquer direito de privacidade, tudo de mau que aí se lembrarem. Still. Apanhou-me desprevenida.

Mas Misaki não tem o mesmo sentido de humor insalubre que a minha pessoa, e não achou muita graça áquele perverso ter usado o seu irmão como apara-lápis num Slash de Fifty Shades of Grey High School AU, ao que irrompe pelo quarto dele para o confrontar. Atitude que, adianto já, é a única vez até onde li em que tem uma atitude reveladora de bolas (-útero).

O pior é que o quarto de Usami está cheio de brinquedos (dafuq²), que desatam a apitar, despoletando a indomável fúria matinal deste. Misaki borra-se de medo, mas continua a gritar que nem uma peixeira numa praça de Sábado, berrando-lhe que não se aproveite do seu "gentil e ingénuo irmão".

Ao que o tutor assim lhe responde:

Ainda não me recompus das outras mãos e já me querem traumatizar outra vez.

Ouvem isto? Que som é este? Será o som de um digníssimo wall pin?

Aw yiss.

Era suposto ser um pionés (= wall pin), mas as minhas pífias capacidades desenhísticas não me permitiram realizar este trocadilho com êxito.

Engatam então numa discussão, que vai mais ou menos assim:

Usami: Mas quem merdalhos é que se aproveita de quem aqui, ó guri?
Misaki: Eeeehhh... *voz de foca retardada*
Usami: O teu irmão por acaso disse-te que eu me aproveitava dele?
Misaki: Nããão...
Misaki: *irritado por ter ficado sem argumento plausível, apesar de haverem quinhentas infinidades de razões que ele poderia ter apontado acerca do facto de que publicar um porno servindo-se de outra pessoa que não tem conhecimento disto é, para todos os efeitos, aproveitar-se desse indivíduo*
Misaki: OLHA, Q'SA FODA, EU QUERO É QUE TU VÁS COMER OUTRO GAJO QUALQUER EM VEZ DELE, TÁSS? ÉS PANDULA, QUALQUER UM TE SERVE!
Usami: *siêncio desconfortável*
Usami: *atira-o para a cama, provavelmente irritado com a afirmação, mas de certa forma comprovando-a*
Misaki: DAFUQ.
Usami: Então estás a dizer que eu não escolho o gajo que como?
Usami: *pausa dramática*
Usami: No me gusta.
Misaki: nonononononono
Usami: *enfia-lhe a mão pelas calças*
Misaki: NEINNEINNEINNEIN
Usami: Tu é que disseste.
Usami: *dá-he um handjob forçado*

Opa, espera aí, pára tudo.

Misaki: NNNNHHG VOU SER VIOLADO.
Misaki:...
Misaki: *geme*
Misaki: *gosta*
Usami: Até és fofinho *lambe dedos*

Outro aparte.


MAS PAREM.

ESPEREM.

WAT.

ISTO É VIOLAÇÃO, CARAGO.

TENHO DE PÔR ISSO A NEGRITO?

OK.

VIOLAÇÃO.

QUE TAL EM SUBLINHADO TAMBÉM?

VIOLAÇÃO.

CACILHAS, GENTE.

Isto é deplorável. Se tal acontecesse na vida real, a vítima sentir-se-ia traumatizada, horrorizada, repugná-lo-ia para o resto da sua existência. Mas não. Adianto-vos que este será o interesse amoroso do rapaz, e que esta foi a sua primeira prova de amor. Síndrome de Estocolmo, vertente violação? Nah. Yaoi do piorio, que acha engraçado e normal romantizar violência sexual.


Daqui a pouco eu é que empalo alguém.

A este ponto, há quem possa argumentar que, afinal, o Stu tem defeitos, sim! Afinal não é perfeitinho, porque pode até ser um licenciado de topo, escritor premiado e podre de rico, mas também é um violador sem escrúpulos. Certo?

Nope. Até poderia considerar isto o seu primeiro defeito, se não fosse pelo inconveniente facto de que defeitos levam a ações que têm consequências negativas, daí serem considerados defeitos. Eu sou teimosa, e considero isso um defeito a partir do momento em que isso me faz ficar de castigo por teimar com a minha amada progenitora. Para efeitos de comparação, se eu teimar tanto num assunto que acabe por dele advir algo bom (i.e. tentar que um professor autorize que façamos um grupo de cinco, em vez de quatro, para um trabalho, e ele acabar por aceder, e o trabalho correr bem), é persistência. Uma qualidade. Um traço de personalidade do qual advêm ações com consequências positivas, não só para mim, mas para os que me rodeiam. Ok?

Usami não-sei-quantas pode ter violado o pobre diabo, mas foi desculpado pelo retorcido universo em que se insere. Não é castigado socialmente, psicologicamente, não tem remorsos, nem a própria vítima parece demonstrar quaisquer consequências negativas. Logo, continua um Stu.

Esqueçam o café. Arranjem-me mas é um chá de erva cidreira com três colheres de açúcar antes que eu comece a amarinhar pelas paredes. Os efeitos maconha-like do Noites Tranquilas evaporaram com esta leva de estupidez.

Eu juro que tentei levar isto a sério. Eu abri esta gaita convencida de que ia ler a obra-prima do BL, porra! Eu até desculpei e passei por cima destas inconsistências da primeira vez. Mas da segunda, parece que cada página é um tiro no joelho. Especialmente quando, depois deste incidente, os nossos dois protagonistas se sentam na sala a conversar, Usami a explicar-lhe porque é que tem brinquedos ás pilhas pelo quarto.

Ele viola-o e depois vão conversar descontraidamente para a sala.

*respira fundo*

Eu nem digo mais nada. Prossigamos.

Misaki decide então atirar-lhe umas quantas à cara, para compensar o abuso que levou. E afirma que Usami foi certamente aquele tipo de pirralho irritante e mimado cujos pais são ausentes e cujo irmão não ligava uma poita avoante à sua existência, e que então se metia a fazer asneira porque estava triste e só. E que se tornou gay porque a mãe trouxe um amante para casa, ele viu, e perdeu o interesse em muié. E, para dar a facada final, acrescenta que provavelmente o outro ainda teve um professor particular que abusou dele logo que soube da sua orientação.

Ao que Usami confirma e lhe pergunta como é que soube.

*respira fuuuuuuuuundo*

É pá. É PÁ. Se há uma linha que separa GaryStuêz de algo ainda mais inidóneo e horrendo, o nosso protagonista acabou de a ultrapassar a velocidade superlumínica em direção ao infinito: Passado trágico sem repercussões no presente, visto que consegue ser um génio das escrivinhâncias e culturas mesmo sem ter recebido educação própria ou carinho ou uma referência adulta que o orientasse no bom caminho, mas que lhe fornece uma desculpa para a tal violação. Reparem ainda que ele confirma aquela papagueada com toda a calma e descontração imaginável. Enquanto. Fala. De. Traumas. Dos seus traumas de infância, que maculariam a sua personalidade para o resto dos seus dias. Não mostra vergonha, não se sente desconfortável, aliás, se o outro maluco atirou aquela conversa toda para o ar, a só para o aborrecer, um ser humano normal na situação de Usami negaria. E pronto. Assunto resolvido.

Por amor a tudo, ao menos finje que tens uma personalidade tridimensional, por uma página, homem. Porra.

Depois: ninguem se torna gay, assim como ninguém se torna hétero. É uma orientação, não uma opção. Ninguém apanha um progenitor e um amante no ato e pensa "EIA CA NOJO, VI A MINHA MÃE NUA COM UM GAJO, JÁ NÃO GOSTO DE MULHER." Não. Não. *atira com o livro de Filosofia à parede* NÃO, CARAGO.


E já nem falo do professor particular o ter violado como segunda desculpa de ele ter violado o puto.

Depois deste interessantíssimo diálogo puramente filler, que só serviu para, descaradamente, nos deixar a par da funesta existência de Usami, mantêm-se um minuto em silêncio, enquanto os nossos dois protagonistas partilham um pensamento comum:

"Não há maneira de eu vir a aturar este gajo, nem pintado de ouro, mas pelo meu irmão/pelo Kyoukou/porque o autor assim o quis, vou aguentar esta descêndência duma meretriz até ordem em contrário".

Bom, ao menos estão de acordo numa coisa. Apesar de não perceber muito bem quais são as razões do Stu para odiar o desgraçado do Misaki, já que há meros minutos parecia estar a gostar bastante de lhe afagar o bagulho sem consentimento.

...agora me lembro. Não era suposto o Stu andar com o irmão dele?... Então além de o ter traído, ainda foi não consensual da parte do amante, que por acaso é irmão do...

Enfim. Esqueçam. Tentar aplicar lógica mundana a isto revela-se uma tarefa infrutívera.

Para quebrar o silêncio, Usami inquere a Misaki para que universidade ele quer ir. Em resposta a este dizer que quer ir para a M (eu nem sei que raio de universidades com letras em vez de nomes são essas, se fictícias ou reais, mas a esta altura do campeonato, que se trambique), o nosso arrogantezinho preferido ainda lhe pergunta se ele anda a fumar qualquer coisa porque, com a suas aptidões cognitivas, era mais provável que as vacas voassem. Irritado, o puto manda-o ir à hidra que o gemulou nas entrelinhas, clamando que não se pode saber dos resultados antes de se tentar, e o outro num esgar de "Ah, mas eu já seu os resultados, meu rotundo idiota, os teus testes de aprovação são uma bosta de gado caprino, tu devias era conformar-te com uma universidadezinha de fazer jeito e deixar de ser uma amostra de idealista da nova era."

Claro, eu estou a aprimorar o diálogo. O original não é propriamente interessante, estou a fazer o possível para tornar isto suportável.

"EU QUERO IR PARA A MESMA UNIVERSIDADE QUE O MEU IRMÃO!", é a extremamente plausível e ponderada razão de Misaki para ir para a Universidade M. Porque, quando os seus pais morreram, há dez anos, o irmão tinha sido admitido na M, mas desistiu dos estudos e foi trabalhar para o sustentar. E já que Misaki quer ir para o mesmo curso que o irmão, faz sentido para ele que vá para a mesma universidade.

...

Bom, aí está algo no qual eu até encontro veracidade. Das duas, uma:

  • Sente-se culpado por ter feito o irmão desistir da sua inimente carreira, e quer fazê-lo orgulhoso ao seguir a mesma. É algo que se vê na realidade; poucos não são os alunos que conheço cujos pais ambicionavam ser médicos/advogados/engenheiros e que, assim, influenciam os filhos a tentar cumprir os sonhos que eles não conseguiram. Acontece. E muitos dos filhos influenciados não acham mal; pelo contrário, consideram justo, plausível, e os objetivos dos pais passam a ser os seus mesmos, sem grande esforço. Apesar de eu considerar mal que os filhos sejam vistos como uma extensão dos progenitores, criada para atingir os objetivos que estes não conseguiram, quem sou eu para questionar mentalidades? É a minha opinião, cada casa com a sua. 
  • Sem este jogo mental, é também normal que um rebento goste da mesma coisa que o adulto que o criou e se vá especializar na mesma área de conhecimento. Duh. Que difícil.

Portanto, esta parte não posso questionar, só o facto de ele ter acabado de contar a sua história de vida pessoal ao gajo que o violou. Mas isso não vale a pena andar a chover no molhado, senão tinha de o dizer todo santo parágrafo.

Usami então vira-se, todo selepre e saltitante, e lhe vibra um alegre "Fica descansado! Relaxa a passarota, que comigo como tutor já estás lá dentro!"

...mas o desgraçado é bipolar? Na boa, mantém a personalidade arrogante de "bah, eu sou tão bom, que comigo tu não chumbas nem que a vaca tussa", mas... de repente é todo alegre da vida? Sorridente?

E Misaki pensa:

"Como é que eu posso confiar neste gajo depois do que ele me fez?..."

Assim é que é, rapaz! Churros para ti! Foge enquanto podes que, tanto quanto sei, a porta está destrancada!

"...bom, ao menos ele consegue meter-me na Universidade M."

...

ELE.

VIOLOU-TE.

NADA, mas NADA desculpa o que ele fez. Nem que ele te desse a cautela premiada da Lotaria Popular a atitude dele seria perdoável. O facto de ele te conseguir meter na universidade não lhe dá o direito de fazer algo contigo contra a tua vontade.

Soltem mais um encolerizado gif de fúria facepalmística!


E mais um!



Agradecida novamente!

Gaita!

PAUSA!

(Consegui surripiar Ice Tea de pêssego da cozinha. É chá na mesma, faz o mesmo efeito calmante, certo? CERTO?!)

Os dias passam, coisital, e Misaki começa a subir as notas, créditos sendo dados ao seu novo explicador, que, porém, sacode dele qualquer agradecimento, ordenando ao rapaz que passe nos testes rapidim, porque quer ver o irmão dele feliz. Levemente incomodado, Misaki volta a tocar no assunto do relacionamento de ambos, ao que o outro explicita que não são um casal. O tal Usami-Todo-Poderoso é que gosta dele, e é meio pegajoso para com o amado. Mas o Kyoukou tem namorada and stuff. 

Consideraria até essa pegação toda um defeito, but NOPE, visto que o irmão do rapazote nem liga a que o outro esteja tipo lapa agarrado a ele.

E...

YAYUS. OLHA O QUE EU ENCONTREI.


O nosso malogrado pedaço de órgão vestigial preferido a comportar-se como um escroto seboso enquanto usa óculos?

Serve.



Entretanto, as notas do fofucho sobem mais. E mais. E parecem o Speedy González com o Beep-Beep nos posteriores colina acima. E a primeira coisa que ele pensa quando as recebe é "Yay vou mostrar ao Usami-sensei ele vai ficar tão feliz- WAIT WHAT. NÃO NÃO EU NÃO SOU GAY."

Eu acho que me preocuparia mais com o facto de me sentir atraída pelo meu violador, mas isso sou só eu. E já agora, oh homem, claro que és gay. Num yaoi do grau de qualidade deste toda a gente é homossexual. Até os que têm namorada, os homens casados, as raparigas, o periquito da vizinha, tudo. Tudo no arco-íris. Heterossexualidade aí é uma coisa tão real como um unicórnio transparente.  


Ah, tenham algum respeito à minha cara, como é que isto é tão falado na comunidade fujoshi? Espero piamente que todas as fujo que vi a darem esta porreça como coruchéu da cultura yaoista estivessem a trollar furiosamente, porque senão, faleci um pouco por dentro, hoje.

***

E esta é a primeira parte da minha adorável resenha. Visto que esta coisa continua por dezasseis volumes (fui confirmar), e ainda não completei o Bingo, esperem mais daqui a vinte anos. Por agora, e para não dizerem que acabei o post em espumações de raiva, tomem um vídeo que, apesar de ser totalmente desconexo com o tema em questão, é engraçado e vai deixar-vos felizes.

Até.


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