26 de julho de 2013

Um Causo de Verão: A Demanda do Ginásio

GPOY

Chega àquela altura das férias em que abundam duas coisas: o calor e a falta do que fazer. O que não é uma combinação muito engraçada, visto que ando a definhar por necessitar desesperadamente de ocupação, mas se me atrevo sequer a dar um passo bem posso ir dar outro banho, porque até do outro lado do sistema solar se sente o aroma a suor.

Só que eu não posso ser uma preguiçosa todos os dias do ano. Sabem, até os talentos naturais precisam de repouso, e eu, apesar de diva dos tempos modernos, não sou uma exceção. Portanto, decididíssima a fazer algo com a vida, lá fui toda lampeira inscrever-me num ginásio local.



Foi ontem, que tal milagre aconteceu. Cheguei ao local, e estava a decorrer uma aula de Zumba. Só de raspão, o que raios tomam as professoras de Zumba antes de lecionar? Leite com cereais, mas com Redbull em vez de leite e pilhas Duracell em vez de cereais? É que consta que a aula já durava há hora e meia, pelo horário afixado na parede, mas enquanto as alunas arquejavam e arfavam, a senhora continuava com a mesma energia no corpo que eu tenho nos dedos quando jogo Fruit Ninja. Que coisa do capeta.

Depressa descobri ser a tal professora também a responsável pelo estabelecimento. Perguntou-me o que pretendia, e eu disse-lhe que queria mexer a peida. Pronto, não disse assim, mas dei a entender que queria uma coisa suave agora de início, e que fosse intensificando até regressar à escola com um caparro invejável ao Schwarzenegger.

 Necessidades especiais?  Inquere-me  Ou algo que gostasses de trabalhar em especial?


Tirando o caparro, nem por isso. De súbito, lembro-me de algo:

– Por ser alta, tenho tendência a entortar as costas. – Informo-a – Há alguma coisa que possa fazer para contrariar?

Portanto, o meu plano de treinos deve ser algo como "Pseudo-fisiculturista de Verão + Programa de Anti-marrequismo". Das aulas que vou ter, sei pouco mais que os nomes. Uma chama-se Circuito, e consta que é cansativo como o carago, outra chama-se Pilates e envolve bolas, portanto não sei bem o que pensar. Vou ficar com a carteira tesa que nem um carapau, mas o estabelecimento em questão tem ar condicionado, então esquecemos todas essas mesquinhezes.

O pior vem quando decido partilhar a minha alegria. Digo-vos, eu tenho de parar de falar com as pessoas. Das poucas vezes em que me decido a tal demanda, chego o meio da conversa com uma vontade louca de passar o meu interlocutor por uma picadora de carne, paná-lo em sal grosso e mergulhá-lo em sumo de limão. Fazer dele uma margarita de "devias ter pensado antes de abrir a matraca", para abreviar.

Porque lá vou toda saltitante:

– Pois, comecei a andar num ginásio e tal, e vou fazer um programa de exercício em casa, e...

Aí, a pessoa começa a olhar-me de alto a baixo com um tal ar de desaprovação que a minha voz vai-se esvaindo num fio até ficar de boca fechada. Só aí ela se decide a soltar a sua não-requerida opinião:

– Mas tu já és tão magra! Vais para o ginásio para quê, para desaparecer?

Aí, engulo o equivalente a umas quinze piscinas de saliva, antes de responder educadamente:

– O meu objetivo não é perder peso ou emagrecer, é ficar mais saudável, com mais resistência física e músculo e trabalhar a postur...

– Músculo? EEEEEW, isso fica tão mal! Quero dizer, num rapaz, a barriga de tanquinho fica bem, mas o mesmo numa rapariga? Fica feio!

E eu a olhar para ela tipo.



O pior é que no início eu deixo sempre bem claro que os meus objetivos em nada se prendem com a aparência. Não é como se eu tivesse referido "ficar com um corpo mais bonito" nas minhas razões de frequentar um ginásio que, volto a repetir, são ganhar força, resistência, ficar mais saudável, e não chegar aos trinta com dores lancinantes nas costas à custa destas estarem mais torcidas que a piromba de um suíno. Ponto. Mais nada. Afirmar que isso "não me fica bem" é destituir-me de todas as minhas razões pessoais e atirar-me à cara que devo desistir de uma atividade que me torne menos atrativa aos olhos de outrem.

Já aconteceu o mesmo quando fui para as aulas de natação. Perdi a conta do número de vezes em que fui avisada que isso "alargava os ombros e ombros largos são de rapaz e" CARAGO, deixem-me da mão. Estou-me marimbando se vou ficar com os ombros largos e barriga de tanquinho. Se essas características forem um bónus de um corpo mais saudável e mais forte, que venham. É da maneira que posso começar a partir para a batatada com todo o energúmeno que se atrever a abrir a venta para fazer comentários depreciativos. Porque, ding ding, lembrete amigável: o corpo é meu. Eu é que decido. Já disse e volto a repetir, eu não trato do meu corpo com o principal objetivo de agradar a quem quer que seja que não a minha pessoa.

E pronto. Aqui termina o segundo rantrant de Verão, com direito a novidades da minha vidinha. Agora com licença, senão chego atrasada àquela coisa do Pilas com bolas. 

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